13 de novembro de 2012

Mulheres nas eleições 2012 e o mantra da subrepresentação parlamentar



Mulheres nas eleições 2012 e o mantra da subrepresentação parlamentar


ABRE: “Mulheres não se interessam por política”. Este tem sido o mantra entoado pelos partidos políticos nas últimas duas décadas para justificar o fato de não preencherem o mínimo de candidaturas (ou “cota”) de mulheres estabelecido pelas leis eleitorais de 1995, 1997 e 2009[1], mecanismo criado como um remédio aos males da sub-representação parlamentar das mulheres.

Quando os debates em torno da criação de um mecanismo de discriminação positiva para mulheres nas eleições brasileiras se iniciaram, no início da década de 1990, os líderes partidários desenvolveram o mantra para justificar seu desacordo. Segundo eles, as cotas não poderiam ser preenchidas exclusivamente por culpa das mulheres que, afinal de contas, “não davam a mínima para a política institucional”.

Os movimentos feministas e mulheres de partidos políticos mostraram que esse mantra era uma grande falácia e que a sub-representação parlamentar de mulheres não era fruto da falta de interesse por parte delas, e sim o resultado de um processo cultural e institucional muito complexo. Portanto, as cotas eleitorais eram necessárias para combater este quadro.

A cota foi aprovada e sistematicamente violada ao longo de quase 20 anos. Os partidos argumentavam não conseguir cumpri-la, porque era muito difícil encontrar candidatas interessadas. O mantra era repetido à exaustão, desconsiderando que os motivos reais da sub-representação de mulheres e da escassez de candidaturas feministas vão desde fatores culturais até o sistema político, passando pela organização material da sociedade (principalmente, pelo capitalismo e pela divisão sexual do trabalho) e pelo patriarcado racista e heteronormativo, mas são sempre estruturais, ancorados em valores de sistemas ideológicos excludentes.

A falta de vontade política dos partidos figura entre os motivos mais relevantes. Para se ter uma idéia, o percentual de mulheres candidatas a vereadoras nunca havia passado de 22% do total até este ano[2]. Dada a necessidade de torná-la mais eficaz, a cota foi alterada em duas reformas eleitorais neste meio tempo e, hoje, estabelece que “cada partido ou coligação deverá reservar o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo” em eleições proporcionais (cargos de deputad@ federal, deputad@ estadual e vereador/a).

Eis que chega o ano de 2012 e a Justiça Eleitoral passa a cobrar a obrigatoriedade deste mecanismo. Pela primeira vez na história do país, as mulheres foram mais de 30% das candidaturas a um cargo eletivo. Nos 5.564 municípios onde houve votação, as mulheres foram 32,6% do total de 448.413 candidat@s a vereador/a que concorriam às 57.448 cadeiras. Nas eleições anteriores, em 2008 e 2004, as mulheres representavam 22,1% do total de candidatos/as a vereador/a (76.670 em 347.333 candidaturas em 2008; 76.555 em 346.419 em 2004). Houve um crescimento em números absolutos de 69.312 candidaturas femininas e de 10,5 pontos percentuais na presença de mulheres em listas eleitorais.

O grande avanço em termos de candidaturas de mulheres ao Legislativo Municipal pode ser explicado pela obrigatoriedade do mecanismo de cota. Já no caso das candidatas a prefeitas, cargo no qual a cota não opera (junto com os outros cargos eleitos por representação majoritária: governador@s, senador@s e president@s da república), as candidaturas foram bem mais tímidas.

Do total de 15.438 candidat@s, elas foram somente 1.938 mulheres candidatas (12,6%). Ainda assim, houve um crescimento absoluto de candidaturas femininas (317 a mais do que em 2008), correspondendo a um crescimento percentual de 2 pontos em termos de candidatas à prefeita.

 


Quais foram os desdobramentos deste incremento no percentual de mulheres candidatas após o fim das eleições?

Se o maior avanço nestas eleições foi o fato de, pela primeira vez, as mulheres terem sido mais de 30% das candidaturas a um cargo eletivo, o maior retrocesso foi que esse incrementode candidaturas não se traduziu em mais vereadoras eleitas.

 

Após o primeiro turno, foram eleitas 7.658 vereadoras, ou 13,3% do total de 57.389 vereador@s eleit@s. Em 2008, foram eleitas 6.508 mulheres (12,5% do total de 51.965). Em 2004, foram eleitas 6.555 mulheres (12,6% do total de 51.800 eleit@s). Um crescimento ínfimo, menor do que um ponto percentual, tanto em relação a 2008 quanto a 2004. Isto indica que, apesar de não terem repetido seu mantra e terem oferecido mais candidatas este ano, os partidos políticos não ofereceram mulheres com chances reais de eleição.

Vimos que a cota é restrita a cargos escolhidos pelo sistema proporcional. Assim, o crescimento percentual de mulheres prefeitas eleitas em relação à 2008 foi... maior do que o de vereadoras, ao contrário do que seria esperado! No primeiro turno, foram eleitas (ou seguiram para o segundo turno) 671 mulheres, 12% do total de 5.610 nov@s prefeit@s.

Em 2008, foram eleitas 504 mulheres (9,1% do total de eleitos/as) e 5.051 homens (91,9%), totalizando 5.555 eleitos/as: no primeiro turno, foram eleitas 502 prefeitas (9,1%) e 5.022 prefeitos (90,9%), totalizando 5.525 prefeitas/os. O aumento em relação a 2008, portanto, foi de três pontos percentuais. Um crescimento baixo, mas, ainda assim, maior do que o que foi verificado no caso das vereadoras, que é contemplado pela lei de cotas. Uma grande contradição!



O novo mantra

Certamente, a justificativa dos partidos políticos para o baixo sucesso das candidatas a vereadora seria a entonação de um novo mantra. Em vez de “mulheres não se interessam por política” agora poderia ser algo como “as pessoas não votam em mulheres”. Contudo, acreditamos que o fenômeno se deva ao alto número de candidatas laranja: mulheres sem chances reais de eleição, convocadas pelo partido somente para preencher as cotas. Esta sempre foi uma preocupação do feminismo: que a obrigatoriedade das cotas não alterasse a forma como se faz política eleitoral, mas sim fosse limitada ao aspecto formal e numérico, incluindo mulheres “só para constar”.

Infelizmente, as cotas não foram um estímulo aos partidos políticos para investir capital financeiro e político em candidaturas de mulheres. Como instituições conservadoras e machistas que são, preferiram convocar mulheres laranja para as candidaturas e continuar repetindo seus mantras.

Isso quer dizer que as cotas não servem para nada? Não! Quer dizer que, mais uma vez, os partidos políticos estão se negando a seguir as demandas da coletividade de mulheres, que foram traduzidas em legislação. Queremos estar mais presentes nos espaços de poder e decisão, e mais: queremos que estes espaços mudem!

A solução do problema é uma reforma política ampla, capaz de atingir e alterar os fatores de discriminação. Para tanto, o movimento feminista possui sua plataforma política e atua diretamente com articulações como a Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político e a Frente Parlamentar pela Reforma Política com Participação Popular[3].

Somente com a democratização do poder, para além de mudanças específicas, e com a transformação do sistema é que teremos uma vida política justa para mulheres, negr@s, indígenas, jovens, para a população LGBT e os demais grupos historicamente marginalizados. É necessário mudar o poder inteiro. Somente assim, quebraremos o poder dos mantras entoados pelos partidos políticos e pelos donos do poder.

Fonte: AMB – Assoc. Mulheres Brasileiras ( CFEMEA)


[1] Leis de número 9.100/95, 9.504/97 e 12.034/09.
[2] O CFEMEA monitora as candidaturas de mulheres em todas as eleições municipais e federais, sendo que os resultados podem ser encontrados em seu sítio eletrônico (www.cfemea.org.br), na parte “Dados estatísticos” da seção “Poder e Política”.
[3] Para conhecer algumas propostas inclusivas de reforma política, acesse nossa publicação “Agenda Feminista para a democratização do poder na reforma”, disponível em nosso sítio eletrônico. Para continuar por dentro das eleições municipais, acompanhe a área de atuação “Poder e Política” do CFEMEA e inscreva-se em nosso curso virtual sobre mulheres e eleições.

11 de novembro de 2012


Nós, da Rede de Mulheres pelo Fortalecimento do Controle Social das Políticas Públicas, no exercício de nossa cidadania, queremos parabenizar aos eleitos e eleitas neste pleito de 2012. Nós, já nos sentíamos vencedoras por ver a nossa luta contemplada, pelo maior acesso de mulheres a prefeituras na Bahia, pelo acesso de lideranças negras a cargos de decisão no poder municipal e porque teríamos em nossa capital uma mulher negra ocupando a vice-prefeitura.
O exercício de democracia que observamos aqui em Salvador foi um exemplo de cidadania, onde a vontade da maioria prevaleceu e precisa ser respeitada e acompanhada nos proxímos quatro anos. Fica o nosso desejo pautado no compromisso de desempenhar o nosso papel como mulheres negras e da periferia, continuar qualificando nossa participação tentando exercer plenamente nossa cidadania e protagonismo político.
Nós temos uma mulher negra no poder municipal de Salvador que tem a responsibilidade de representar toda a população de Salvador, mas também as mulheres negras e de periferia, o segmento historicamente mais pobre, discriminado e explorado deste país. A sua presença na Prefeitura de Salvador, pode favorecer uma maior participação e poder de decisão para muitas mulheres. Para isso, nós precisamos estar presentes exercerdo nossa cidadania e controle social para que esta distribuição regional de poder inclua as periferias de Salvador.
Nesta luta histórica de superação e resistência porém, queremos lembrar a todas/os que a eleição não é o fim e sim o meio, e que, enquanto formos parte desta Cidade temos que exercer esta tão almejada cidadania ativamente, antes, durante e principalmente após as eleições, já que o voto elege nossos representantes, mas não traz, por si só mudanças, o CONTROLE SOCIAL SIM tem o potencial de trazer mais igualdade e democracia para a gestão pública de nossa cidade.
Continuaremos firmes na luta para termos mais mulheres negras no poder.
Vamos em frente, a Vitória é nossa!!!

Um forte afroabraço da Rede de Mulheres!!


Fonte: Postado por Rede de Mulheres da Bahia no Blog da Rede de Mulheres da Bahia em 11/09/2012 05:38:00 PM

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Rede de Mulheres para o Fortalecimento do Controle Social das Políticas Públicas
http://blogrededemulheres.blogspot.com/

23 de outubro de 2012

A Organização dos Estados Americanos (OEA) agendou audiência temática sobre as mulheres negras brasileiras


A Organização dos Estados Americanos (OEA) agendou audiência temática sobre as mulheres negras brasileiras para o dia 1º de novembro, durante a próxima sessão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), em Washington, D.C.. A audiência foi solicitada pela Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB) a fim de denunciar o Estado brasileiro pela ausência de políticas públicas para as mulheres negras.
De acordo com a secretária executiva da AMNB, Simone Cruz, o propósito é “levar informações à CIDH sobre os graves problemas enfrentados pelas as mulheres negras no âmbito dos direitos humanos no campo da saúde e do trabalho doméstico no Brasil”.
Segundo estudo realizado pela AMNB, as mulheres negras são campeãs no exercício do trabalho doméstico sem os direitos trabalhistas garantidos e nas taxas de mortalidade por morte materna em consequência de complicações durante a gravidez, o parto e o puerpério.
O estudo também aponta que, para além dos fatores biológicos e comportamentais individuais, há a existência de outros elementos que criam condições desfavoráveis para as mulheres negras brasileiras “Há determinantes sociais da saúde marcados pela ação do racismo patriarcal que causam um impacto diferenciado sobre as mulheres negras”, afirma o documento que será apresentado na OEA.
Além de Simone Cruz, acompanharão a audiência da Organização dos Estados Americanos a presidente do Geledes - Instituto da Mulher Negra, Nilza Iraci, e o diretor de Programa para a America Latina da Global Rights, Carlos Quesada.

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4 de setembro de 2012

Odara realiza 1º Ciclo de diálogo Eleições 2012: Uma Reflexão sobre o papel das Mulheres Negras
 

A conjuntura eleitoral de Salvador e o papel da mulheres negras na política serão pautas do 1º Ciclo de diálogo Eleições 2012: Uma Reflexão sobre o papel das Mulheres Negras, que acontecerá, nesta quarta-feira, 05 de setembro, as 18h30, na Biblioteca Pública dos Barris. O evento é uma realização do Odara – Instituto da Mulher Negra e contará com a presença das candidatas a vice-prefeitura de Salvador – Célia Sacramento (PV), Olívia Santana (PcdoB) e Nise Santos (PSOL), além da socióloga e militante do Ceafro, Vilma Reis, e da coordenadora executiva do Odara, Valdecir Nascimento.

“Esse debate tem o intuito de pactuar e discutir estratégias de inclusão das mulheres negras no ciclo de desenvolvimento da cidade e propor uma analise conjuntural sobre o lugar e o papel das mulheres negras no cenário político. As eleições municipais deste ano apresenta um novo cenário político, que coloca as mulheres negras na ponta da disputa e do debate eleitoral assumindo lugares de destaque dentro das chapas majoritárias de três partidos e projetos diferentes que disputam a prefeitura da capital conhecida como a cidade mais negra da America Latina e também pelos seus níveis elevados de desigualdades que assola e define a vida da população negra. Portanto precisamos dialogar”, disse Valdecir Nascimento.

2 de agosto de 2012


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O Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero consiste em concurso de redações, artigos científicos e projetos pedagógicos, dirigido a estudantes de Ensino Médio, Graduação, Pós-Graduação e Escolas da Educação Básica na área das relações de gênero, mulheres e feminismos, contemplando suas interseções com as abordagens de classe social, geração, raça, etnia e sexualidade.


1 de abril de 2012

MÊS DA MULHER: Coletivo de Mulheres do Calafate recebe orientações da Defensoria Pública

Fotos: Ana Virgínia
O Coletivo de Mulheres do Calafate recebeu, na ultima quinta-feira (22), as defensoras públicas Firmiane Venâncio e Bethânia Ferreira, que realizaram uma palestra na sede da associação da comunidade, na Fazenda Grande do Retiro. O objetivo do evento é aproximar a população local à Defensoria Pública, esclarecendo o trabalho desempenhado pelo órgão e as formas de acesso aos serviços da instituição.
A escolha do Coletivo é pelas demandas solicitadas à Defensoria pela comunidade, que vão além das questões relativas ao público feminino. Assolada por situações de violência, tráfico de drogas, as mulheres do Calafate se tornam vítimas dessa violência ou pertencentes a núcleos familiares que tenham pessoas acusadas de algum delito. Segundo Venâncio, "ao longo desses anos de contato, percebi uma angústia, uma necessidade de que elas conhecessem melhor como a justiça funciona e o papel da Defensoria Pública. A ideia é fazer uma série de atividades no bairro, mas inicialmente preparar as lideranças para agirem como agentes multiplicadores do nosso trabalho".
Durante a palestra, foi apresentado como o cidadão pode procurar a Casa de Acesso, localizada no bairro do Jardim Baiano, para ter seu primeiro atendimento e posteriormente ser encaminhado para as áreas específicas. De acordo com Marta Leiro, que já acionou a Defensoria para auxiliá-la em um ação judicial, a comunidade estava desencantada com a justiça, e viu no contato com o Defensoria a possibilidade de aproximação com a população do Calafate. "Esse ano estamos desejando aprofundar a questão da promoção dos Direitos Humanos, mobilizar mais os moradores da área e informar sobre o acesso à justiça e seus direitos. Temos ações voltadas para essas questões até outubro, quando realizaremos o 2º Encontro das Mulheres do Calafate. Também pretendemos levar ações da Defensoria às escolas do bairro", afirmou a coordenadora. 
 
O evento contou com a participação de demais órgãos que trabalham na comunidade, como integrantes do Grupo de Apoio à Prevenção da Aids (GAPA), Rose Rozendo da UNIART e assistentes sociais da UFBA.
 Fonte:http://www.defensoria.ba.gov.br/portal/index.php?site=1&modulo=eva_conteudo&co_cod=7134

21 de março de 2012

Educadores previdenciários orientam comunidade do Calafate

Notícias
12:11  -  21/03/2012
SALVADOR: Contribuição da dona de casa é destaque em palestra  
Educadores previdenciários orientam comunidade do Calafate  
De Salvador (BA) – O Núcleo Local de Educação Previdenciária da Agência da Previdência Social (APS) Periperi, vinculada à Gerência-Executiva do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em Salvador (BA), realiza palestra sobre os benefícios, contribuições e serviços previdenciários para a comunidade do Calafate. A ação está marcada para quinta-feira (22), na sede do Coletivo de Mulheres, na rua do Calafate, n° 10, San Martin, às 14h. A expectativa de público é de 50 participantes.

Técnicos do INSS orientam as associadas da cooperativa Costurarte e os demais participantes sobre a contribuição previdenciária para a dona de casa sem renda própria. Se for inscrita nos programas sociais do Governo Federal e tiver renda familiar de até dois salários mínimos, a dona de casa tem o percentual de contribuição mensal reduzido para 5%. Mantendo os recolhimentos em dia, a dona de casa garante o direito aos benefícios previdenciários.
Fonte: http://www1.previdencia.gov.br/agprev/agprev_mostraNoticia.asp?Id=45782&ATVD=1&xBotao=2